quinta-feira, 8 de setembro de 2011

As consequências da incerteza...

Uma das piores torturas psicológicas que se pode sofrer é a incerteza. Nem falo da incerteza da vida, pois esta todos temos.

Falo da incerteza de ter um trabalho, de poder pagar as nossas dívidas, de conseguir manter um teto, de algum dia ter um filho...

Nos telejornais só se fala em crise. Fala-se nas dívidas da Grécia, da Espanha, da Itália, de Portugal. Fala-se na contracção económica de grandes potências como a Alemanha e EUA e fala-se numa possível nova recessão mundial.

Estamos a sentir os efeitos desta crise. Todos os dias aumentam-se ou criam-se novos impostos, aumentam-se os preços da saúde e da educação. Aumenta o combustível, a alimentação, a luz, o gás. Só não aumenta o nosso salário.

As empresas com passivos que quase duplicam os ativos começam a cortar custos... cortam no cafezinho, cortam no material de limpeza, cortam nos transportes, cortam no pessoal. Só não cortam nos salários gordos dos diretores... como se a empresa fosse para frente só com o trabalho destes. Vemos de dia para dia o trabalho diminuir... horas a fio a inventarmos trabalho...

Daí a nossa incerteza... será que eu serei o próximo? Será que isto vai aguentar-se? Será que conseguirei outro trabalho? Será que conseguirei um salário mais ou menos igual? Será? Será? Por que será que não nos dizem logo? Talvez eu conseguisse logo alguma coisa ou consiga emigrar... Só dúvidas, só questões, só incertezas do amanhã.

E quais as consequências desta incerteza?

Sinceramente, não sei bem. Quem me dera saber! Assim sabia como evitá-las.

Aí lembramos daquele velho ditado: "até um pé na 'bunda' nos empurra para frente"... pensamos em 1001 soluções...

Com a minha indenização poderia...
Começar um negócio! Mas em que?
Comprar acções! Mas não entendo nada disto!
Colocar numa poupança! Mas o rendimento é tão pouco que não compensa...
Comprar um carro! Mas em que estou pensando? Um carro vai me dar mais despesas!
Me aguentar até arranjar um trabalho! Mas e se eu não arranjar outro trabalho?
Emigrar! Vou para um país onde arranje um bom trabalho para ganhar um bom dinheiro. Mas não conheço ninguém que está fora e não sou maluco de ir de mochila as costas...
Vou simplesmente pagar minhas dívidas mais urgentes, ir para o fundo desemprego e ficar a espera de um trabalho! ou talvez nem pague as dividas e guarde o dinheiro para uma emergência...

Difícil não? É tanta coisa, tantas possibilidades e tantos entraves que nos deixam malucos, sem nem saber o que fazer com uma miséria que podemos receber caso nos mandem embora...

Mas a questão não é só essa. A maior pressão é entrar dia e nós inventando trabalho... sem saber se amanhã haverá emprego. Essa dúvida é que nos maltrata.

É cada dia mais difícil levantar da cama de manhã. Passamos o dia mal-humorados, tristes, com vontade de fazer ainda menos... mal esperamos pelas 18:00h! Vamos para casa cansados de fazer quase nada, da dúvida, do ambiente da incerteza. Parece que levamos nos ombros um peso que não nos pertence. Chegamos à casa só temos vontade de enfiarmo-nos no sofá e ali ficar, olhando para a telinha hipnotizadora que não nos ensina nada, só rouba nosso tempo e nossa capacidade de pensar, imaginar e inventar, porque faz isso por nós. Aí vamos para a cama e não conseguimos dormir, porque o cérebro não pára de pensar no que não é certo.

Cada dia estamos mais cansados, mais carrancudos, mais insatisfeitos com a vida... e o pior: não encontramos forças para fazer algo para mudar.

Das consequências da incerteza, acho que esta é a pior delas: não fazermos nada para mudar...

Não está sendo fácil, na verdade está sendo é muito difícil mesmo... mas eu estou tentando, estou lutando contra esta preguiça, contra este sentimento de impotência... mas isto sou eu. Há quem não tenha a mesma força, a mesma coragem, digamos assim. E dia-a-dia vou vendo as pessoas queixarem-se sem nada fazer para mudar... sem sequer ver uma saída, sem ao menos pensar que pode existir uma... apenas esperando!

E você? Como está no seu trabalho? Como tantos outros à espera que o patrão lhe venha dar a "má notícia"?

Ou está fazendo o seu pezinho de meia, aproveitando o tempo livre para especular, estudar possibilidades, fazer cursos on-line, entre outras 1001 coisas que se pode fazer?

Eu, embora esteja enfrentando algumas consequências da incerteza vou tentando fazer parte do 2º grupo... não quero esperar por uma certeza negativa para sentir a sua dor... quando e se esta certeza chegar, quero estar preparada para enfrentá-la e mostrar a ela quem é que manda... e francamente, claro que sou eu!

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