sexta-feira, 18 de julho de 2008

Saudade da Infância...




"Ai que saudade que tenho da minha infância querida, da aurora da minha vida que os anos não trazem mais..."




Saudade do tempo em que minha única preocupação era "do que vou brincar hoje?"...

Lembro-me tão bem dos dias que passava na casa da minha avó... subindo em árvores, chupando mangas, contruindo cabaninhas! Grande parte delas eram construídas no galinheiro... o galinheiro era enorme e tínhamos espaço à vontade... as galinhas nunca foram problemas para nós, embora nós provavelmente seríamos para elas...

Triste hoje em dia crianças que passam a vida em frente uma tv ou um pc... que falta de imaginação! Mais triste ainda pais que não deixam as crianças andarem descalço, correr, sujar-se, subir em árvores e brincar no galinheiro...

Nossas cabaninhas tinham tudo: armários, lugar para sentar, panelas e formas para bolos (estas eram as latas de marmelada)... fazíamos comida de verdade! Muitas vezes comíamos muito melhor aquelas comidas enfumaçadas feitas por nós num fogãozinho improvisado a lenha do que em casa à hora do almoço... fazíamos bolos, arroz, batata frita... tanta coisa! Engraçado que tirávamos as coisas da dispensa da minha avó e pensávamos que ela não via... ai ai! Ela sabia cada bocadinho de sal que de lá tirávamos, mas nunca quis pronunciar-se, tirar de nós a fantasia que podíamos fazer o que queríamos... Num dia de chuva com muita lama no galinheiro queríamos ir para lá brincar e minha avó não deixou, disse que ficaríamos doente se andássemos naquela lama, então nós, cabecinhas pensadoras, corrermos a um cômodo onde meu avô guardava o material de pesca e calçamos umas botas que ele tinha lá, daquelas de borracha... assim minha avó já não tinha desculpas e passamos o dia lá, no galinheiro...

Brincar na rua... pique-alto, bóia, pique-esconde, rouba-bandeira... polícia e ladrão, changeman, She-Ha e He Man... tanta coisa! Nem me lembro o que passava na Tv aquela época... tínhamos imaginação...

Também tínhamos um clubinho cuja sede era numa casa em construção que meu avô não terminara, lá no mesmo quintal... fazíamos peças de teatro, festas, levávamos aquilo mesmo a sério! Tinhamos até um escritório... tanto papel que nem sei de onde vinham! Uma vez fizemos uma festa para o dia das mães... Convidamos todas as mães vizinhas da minha avó para a festa! E adivinhem: elas foram!! Era numa parte do quintal que nos mesmos limpamos e arrumamos... fizemos bancadas, uma parte para nos trocarmos... uma prima mais velha fez um bolo, fizemos salada de fruta (fruta é o que não faltava no quintal da minha avó)... lembro com perfeição da festa, do teatro que sozinhos ensaiamos, até lembrançinhas distribuimos... elas só não gostaram de um efeito especial: tinha uma árvore daquelas com as folhas muito pequeninas e nós amarramos uma corda num galho e balançamos para fazer cair as folhas secas!!! Só criança mesmo!

Muitas festas aconteceram, mesmo que fossem só para as crianças vizinhas com quem brincávamos... nós, tenho falado em nós mas até agora só há como indentificar-me a mim! Nós éramos eu, minha irmã mais nova, uma vizinha da minha avó 1 ano mais nova que eu e seu irmão da idade da minha irmã e uma prima de segundo grau mais velha que eu 1 ano... às vezes também brigávamos com estas mesmas vizinhas que muitas vezes até eram maiores que nós e corríamos para a casa... quando brigávamos as xingávamos lá do quintal, de cima da árvore, quando fazíamos as pazes íamos brincar na rua... coisas de criança...

Fazíamos coisas para vender também... no clubinho vendíamos salada de fruta nas festas, mas era sempre fiado e ninguém pagava! A mãe da minha prima era costureira e ela sabia costurar um pouquinho, fazíamos rabicós para prender o cabelo com os retalhos, fazíamos tapetes daqueles feitos com retalhos e saco, fazíamos pulseiras de fios de telefone, aqueles coloridos que de vez em quando encontrávamos perto de um poste onde alguém estivera consertando as linhas... Montamos uma bancada na varanda, sempre na casa da minha avó, e ficávamos à espera que uma boa alma passasse e comprasse. Um dia vendemos um tapete para uma vizinha... fomos logo comprar chup-chup com o dinheiro... Num sábado, dia de feira na cidade, saímos sem ninguém saber e fomos para a feira para vender nossas coisas... levamos uma caixa de papelão como bancada e lá montamos nossa banca! Era longe... viemos para casa sem vender nada, mas contentes... contentes por termos tido aquela aventura...

Meu tio, que tem uma deficiência, juntava latas e alumínio para vender... começamos a juntar também. Engraçado que éramos crianças honestas, ficávamos admiradas de tanta lata que meu tio juntava e nós não conseguíamos juntar nem metade, mas nunca lhe tirávamos nem uma... num dia que juntamos um saco cheio saímos para vender, mas nem tínhamos idéia de onde... andamos distâncias enormes com aquele saco nas costas à procura de um lugar onde comprassem as latas. O alumínio sabíamos e fomos logo lá... mas nunca encontramos alguém para comprar as latas! Enfim, acabamos por voltar e despejar as latas junto com as do meu tio... e esquecemos o assunto. Nossa intenção era sempre a mesma: arranjar dinheiro para comprar chup-chup... era a D.ª Maria que vendia, havia de tudo mas os preferidos eram os de iogurte e côco... bons tempos aqueles... nem sei se a D.ª Maria ainda os faz...

Éramos crianças independentes, que não ficavam a espera da mesada dos pais para alguma coisa, mesmo porque não tínhamos mesada... se pedíssemos dinheiro logico que eles dariam, mas com certeza se pedíssemos todos os dias para comprar chup-chup não... então dávamos nosso jeito!

Na escola havia sempre uma disputa pelas maiores notas... nós nos preocupávamos em ter boas notas, dificilmente haviam crianças que reprovavam... líamos muito, pelo menos eu e minha irmã, levávamos todos os dias 2 livros da biblioteca (não levávamos mais porque não era permitido), o prazo de entrega eram 5 dias, nos entregávamos logo no dia seguinte para podermos levar mais... gostávamos de ler...
Brincávamos no recreio de menina pega menino, de bola, de boneca... implicávamos com os mais novos para eles correrem atras de nós...

Também tinha amigas da escola com quem brincava durante a semana, pois na casa da minha avó era só nas férias e fins de semana... fazíamos festinhas também e convidávamos muitas crianças do bairro, fazíamos aniversário de bonecas... principalmente das barbies das minhas amigas porque eu não tinha uma, na época eram muito caras (e quando tive já tinha passado a fase das barbies), estava sempre na casa delas para brincar pois elas tinham várias, colocavamos as roupinhas todas no meio e cada uma ia escolhendo as roupas que queria, tudo muito organizado! Fazíamos pic-nics nas pedras à volta do bairro, ainda me lembro das torradinhas e bolinhos de trigo que fazíamos... também tinha a escolinha, onde nós dávamos aulas para nossos irmãos, cujas faixas etárias eram as mesmas... quando faziam alguma coisa que considerávamos errado punhamos de castigo e tudo... no recreio tinha sempre sumo de folha de goiaba... expremíamos a folha com água e açúcar era chazinho de goiaba... provavelmente ficávamos com prisão de ventre por causa daquilo, mas não me lembro...
Época de desfile de 7 de Setembro íamos todas tocar na banda! Então agarrávamos nos taróis e íamos justo para os lugares mais altos, morros, para ensaiar, devíamos colocar o bairro todo maluco!

Bons tempos, bons tempos...

Depois fomos crescendo, entramos na adolescência... já não brincava na casa da minha avó, raramente ia lá, separei-me das amigas de escola que, embora estudando juntas ainda, tinham outras amizades e outros interesses. Fiz novas amizades na escola e na igreja... e esta passou a ser a minha turma. Turma que até hoje é o meu núcleo de amigos... mas essas aventuras ficam para uma próxima...

O que eu quis dizer com estas lembranças todas?
Que isso que é infância feliz, estimulada... onde as crianças pensam, imaginam, aprendem a se virar, a serem independentes... que não sou contra os jogos de computador, eu mesma sempre sonhei em ter um, mas ainda bem que não o tive porque tive a oportunidade de ter uma infância tão linda... mas que deve haver limites para estes jogos, uma hora por dia ou só aos fins de semana por pouco tempo ou em dias de chuva...
Devemos dar oportunidade aos nossos filhos de conhecer a vida fora de uma tela... a vida real! As crianças se tornam mais felizes, saudáveis, menos agressivas... porque a maioria dos jogos são de luta e violência... sei lá, são tantas coisas...

Só sei que sonho e pretendo dar aos meus futuros filhos uma infância, não igual, mas parecida ou melhor que a que eu tive... e peço a Deus que me dê condições para isso, porque neste mundo de hoje é muito complicado ser mãe e pai... é mais fácil confiar esta tarefa à televisão como vemos muitos casos por aí... infelizmente.

E como o tempo passa, a infância só acontece uma vez, assim como todas as fases da vida e devemos aproveitá-la ao máximo... pois só se vive uma vez!

E ser criança é bom demais!!!

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